sábado, 19 de dezembro de 2009

Nossa moral a golpes de martelo.

Não sei se todos tem se mantido a par das notícias veiculadas nos jornais aqui de Joinville ultimamente, mas creio que a maioria já ouviu falar de um acontecimento que tem repercutido bastante: o rapaz que matou a mãe a marteladas. Para aqueles que não tem a mínima idéia do que eu estou falando, tem aqui o link de uma das inúmeras reportagens sobre o assunto.
O rapaz em questão é Giovanni Wites Bolzan. Giovanni é um rapaz inteligente, no concurso do BESC de 2004, ele foi o primeiro colocado da Regional Norte. Um feito e tanto! Porém, por motivos que me faltam conhecer (só sei de boatos), ele não passou nem mesmo dos três meses do estágio probatório do banco.
Pode aqui surgir uma dúvida: como eu sei tudo isso? Bom, eu conheço o Giovanni. Não vou dizer agora que agora que somos amigos, mas eu o conheço. Inclusive, creio que ele gostava de mim. Para aqueles que tem uma “vaga impressão” de onde o possam conhecer, refresco a memória: durante alguns anos, Giovanni foi caixa/garçom/faz-tudo do Sandubom, lanchonete que fica na frente da Univille. Lá, eu conheci o Giovanni. Tinha algum contato com ele por ser um cliente assíduo do bar, e por trabalhar no BESC, então, tínhamos alguns motivos para conversas. Talvez eu fosse o cara que mais falava com o Giovanni lá dentro. Ele sempre fez o tipo calado, mas assim que se desse um pouco de atenção, ele buscava algum contato humano.
Agora, algumas peças se encaixam nesse quebra-cabeça surpreendente que é a psique humana. Giovanni era um rapaz simples. Nunca o vi com uma roupa de marca, algum tênis caro; andava sempre de ônibus. Inclusive, quando o encontrava em algum lugar fora do Sandubom, e o cumprimentava, ele demonstrava grande prazer em ser saudado, me passando assim a impressão de que raramente algum cliente do bar se dignava a ser um mínimo educado.
Não pretendo aqui humanizar o Giovanni, nem tentar justificar o ato que dizem que ele cometeu, entretanto, parei pra pensar em algumas coisas. A imprensa sensacionalista tem deitado e rolado em cima do fato, procurando transformar o rapaz em um novo inimigo público número um. Filmam o seu rosto, dando closes desumanos, ajudando no papel de humilhá-lo, expô-lo ao ridículo e ao constrangimento público. Porém, por mais paradoxal que possa parecer o que vou dizer, ainda assim digo: ele parecia ser boa pessoa. Giovanni não dava descontos na cerveja, nem mesmo uma bala de graça, não poderia ser chamado de “gente boa”, mas isso só demonstrava o quão responsável ele era para com seus afazeres. Ele começava a trabalhar as oito da manhã e saia a hora que o bar fechava (sempre depois da meia noite).
Poderia aqui escrever frases e mais frases, parágrafos e mais parágrafos acerca do rapaz, de episódios que me vem a memória; poderia discorrer sobre como ele era solitário, incompreendido, alvo de zombarias e ridicularizado (inclusive por mim mesmo algumas vezes), mas não vou me alongar. Prefiro deixar o questionamento no ar, de o que a solidão pode fazer a uma pessoa. De como, muitas vezes, alguém que convivemos por alguns meses, anos, e que passa por nós de uma maneira quase “imperceptível”, pode ter tanta coisa acumulada dentro de si que deixa estourar de uma maneira absurda e desumana. Como muitas vezes, o nosso egoísmo, ego e vaidade passam como um trator por cima dos outros, das necessidades do próximo, e esses sentimentos destrutivos, vão muito além de ideologias políticas, costumes e religião. John e Paul já diziam a alguns anos atrás: “all you need is love” (tudo o que você precisa é amor), mas prefiro dizer que, tudo o que nos falta, é amor.
Giovanni não apenas matou a mãe a marteladas, ele destruiu também a própria vida. Alguém tem dúvida de como um assassino da própria mãe é tratado dentro da cadeia? Porém, mais do que isso, sentimos a moral da nossa sociedade sendo destruída a golpes de martelo, por não conseguirmos enxergar quando uma pessoa tem necessidades e carências; ou pior, se enxergamos, fazemos de conta que não vemos, e levamos nossas vidas pacatas e patéticas adiante, dentro das nossas zonas de conforto, utilizando-nos dos ópios sociais para anestesiar a nossa consciência, que, por mais sufocada que seja, ainda tenta, nem que seja com gemidos inexprimíveis, nos lembrar que somos seres humanos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

GEIPA

Como já falei no Peplo, eu, muito tatu que sou, esqueci de publicar aqui o próximo encontro do GEIPA (Grupo de Estudo de Idéias e Práticas Anarquistas). Ele é amanhã, mas ainda está em tempo de participar. O material para a reunião pode ser conseguido aqui.

O assunto é bom, mas o palestrante é meia boca, haha! Será divertido, um momento de discussão e aprendizado mútuo. Apareçam!

Maiores informações, no cartaz.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Rodando el mundo!

Meu texto que escrevi no Peplo está ficando famoso. Dois blogs gregos já o publicaram: o do Akeldama, e esse outro aqui, que não tenho a mínima idéia de qual seja o nome, hahaha!

Enfim, esse post é só pra avisar que atualizei o Peplo. Quem ainda não o colocou na sua lista de favoritos, favor se mexer, hehehe...

As coisas têm andado, se movido. Abraços a todos. Logo devo postar algo aqui que não seja auto-propaganda, sério!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Peplo!

Pessoas que aqui lêem;

muitos sabem que tenho (re)descoberto novas perspectivas na minha vida, e me dedicado a estudar o anarcocristianismo. Sendo assim, para não misturar as coisas aqui no blog, estou com um endereço novo, o http://peplozine.blogspot.com.

O Me Gusta el Tango não vai parar de ser atualizado, inclusive, ele vai acabar se fundindo com o Baixo-Ajuda, e meus contos depressivos e histéricos começarão a figurar aqui também, juntamente com demais coisas que me calhem na cabeça.

Pessoas que chegaram até aqui atrás de conteúdo/material anarcocristão, o blog no qual tratarei exclusivamente esse assunto, reforço, é esse: http://peplozine.blogspot.com

Aos meus amigos, peço que leiam esse novo blog também, gostaria muito que lessem, dessem suas opiniões... Seria muito importante pra mim.


Abraços! Que os novos tempos sejam sempre melhores que os que passaram!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Religious Anarchism

"Esse outono será marcado pelo lançamento de um projeto-livro que reúne doze pessoas que tem tanto o anarquismo como a fé religiosa como partes significantes de suas identidades. Anarquismo Religioso: Novas Perspectivas apresenta anarquistas das tradições Cristã, Budista, Muçulmana e Taoísta, cujos ensaios “fornecem um esboço da história de algumas das principais correntes do pensamento anarco-religioso e desenvolve novas perspectivas sobre questões centrais ao anarquismo, incluindo resistência, luta e experimentação contra-cultural; desprendimento político, etnocentrismo e formação de comunidades.”(Ruth Kinna, Palestrante em Política, Universidade de Loughborough; editor da Anarchist Studies). "

A resenha acima (completa) está neste site aqui.

Para quem se interessar, tem um pedaço do livro aqui, que inclui índice, prefácio, introdução e um trecho do primeiro capítulo. Está em inglês, e pra esse, não prometerei a tradução tão cedo, por conta de tempo, coisa que anda escassa.

O livro parece ser muito bom. Estou aceitando como presente, pode ser até de Natal adiantado ;)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Amigos!

É difícil algum dia que passe no qual eu não pense em meus amigos. Talvez não todos eles todos os dias, mas praticamente... Agora, nesses tempos em que a Roda da Vida me condicionou a um afastamento, a importância deles para mim se ressalta, assim como a saudade e a nostalgia.

Marquito e suas correrias, seus atrasos, suas enroladas. Seu coração imenso e atrapalhado. Quando penso nele, penso em passeios suicidas de carro, mesas de Jangas, Juarezes, Zepellins, com pilhas (e pilhas!) de garrafas de Brahmas, Antarcticas e, em algum cantinho, algumas Franciscaners, porque todo mundo já foi rico por um dia.

Alemão e o eterno ensinar. Quando ele aprendia, ele não deixava transparecer, mas eu sabia que tinha entrado alguma coisa naquela cabeça dura. Longas experiências, conversas, noites de xadrez (cheeeess!), rock'n'roll dos anos 60 e 70, e uma abertura de corações dificilmente encontrada.

Alberto e seus conselhos. Muitas vezes não ouvidos, mas dados mesmo assim. Noites de riso, de mesa, de cerveja. De feijão frio com catchup na larica da bebedeira. Uma cama improvisada, mas aconchegante, um sorriso, um abraço, por vezes um irmão, por outras um pai (dado a idade dele, lógico, haha).

Douglas e suas confusões. Mas acima disso, o Douglas pra mim é música! É um tempo bom que não volta mais. Ele e seus sonhos, suas fugas, suas cagadas. Mas e quem consegue ficar brabo com ele mais de dois dias?

Débora e a alegria. Os risos, a idiotice, as partidas de War, filmes, Chico, Los Hermanos, tardes de sol no Sandubom, uma irmã que não nasceu da minha mãe. Arrumou um marido barbudo e muito gente boa. Eu já falei da cerveja aqui? Hahaha...

Josenita (filha do seu José e da dona Anita) e a doçura. O carinho extremo que por muitas vezes não soube reconhecer. O companheirismo mudo, mas sempre presente, a eterna disposição para tudo. Uma pessoa que merece toda a felicidade desse mundo.

Maikon e o mau humor. Senso de justiça, luta. Companheiro para discussões, conversas, que mostrou (e ainda mostra) uma evolução fantástica, que apesar de tomar na cara, não desiste, levanta, dá um jeito aqui, um jeito ali, sem "jeitinho". Pensar no Maikon me faz pensar em The Clash, em tardes no DCE, em comida de soja, haha!

Cibele. Uma amiga que a vida transformou em companheira, esposa, mulher. Ela cabe aqui pois as vezes mesmo estando na mesma casa, mas em cômodos diferentes, já sinto saudades. O carinho, a paciência, o companheirismo. As broncas, os bicos, os olhos cheios de vontade de viver. A pessoa que talvez mais me conheça. Aguentou muita coisa ao meu lado, coisas que fariam outras pessoas correr, ir embora, mas ela ficou, aguentou, e me apoiou. E dorme de um jeito tão fofo...


Meus amigos. Todos vocês participaram da construção deste homem confuso que hoje aqui escreve. A todos vocês, não importa quando e onde, sempre estará disponível aqui "as mãos e o coração livres e quentes, chimarrão e leveza", como diria o Humberto Gessinger.

Amo vocês!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

"Desejamos uma feliz crise e um ótimo medo novo!"

Meu amigo do Akeldama, o Cris, me enviou também um artigo de sua autoria sobre os movimentos que vem ocorrendo na Grécia desde dezembro do ano passado. É um tanto longo, mas vale a pena a leitura. Para quem não faz a mínima idéia do que estou falando, ao ler o texto, entenderá.


"Desejamos uma feliz crise e um ótimo medo novo!"*
Um pós-escrito sobre as manifestações de dezembro em Atenas.

[publicado no “Anarchist Studies journal, vol.17, no.1, 2009”]


No dia 6 de dezembro um policial atirou e matou um menino de 15 anos em Exarchia, uma região de Atenas muito conhecida por suas raízes libertárias. Dentro de poucas horas a cidade toda estava sendo incendiada por hordas de manifestantes furiosos, cujos alvos era de significância anti-capitalista, anti-estatal e anti-comercial: bancos, revendas de carros, megalojas, delegacias, e até mesmo a gigantesca árvore de Natal na praça Syntagma. As manifestações continuaram por quase três dias, com o conflito entre os manifestantes e as forças de repressão tomando lugar nas ruas entre prédios em chamas e barricadas.

Muitos tentaram achar um paralelo entre essas manifestações e os eventos recentes nos subúrbios franceses ou até mesmo nos eventos de Maio de 68. Apesar de as causas e razões de tais surtos pareçam ser bastante similares, o caso de Atenas deve ser enxergado separadamente pela diferença em um ponto básico: Os que participaram nos ataques de Atenas não foram somente estudantes universitários, trabalhadores ou imigrantes. Eram todos dos grupos citados, mas ainda mais: alunos de escolas, burgueses de meia idade, pessoas com ou sem um background ou uma consciência política – todos fartos das altas taxas de desemprego, pobreza, assassinatos do Estado, repressão e violência; com os padrões de vida e com o isolamento urbano. Além disso, a persistência de muitos academicistas – veteranos dos conflitos de 68 – em comparar negativamente os dias atuais aos deles, e ao demonstrar uma posição elitista ante aos manifestantes, causou uma reação furiosa, expressada em slogans aparentemente apolíticos como “Foda-se o Maio de 68 – Lute Agora!” ou “Vocês destruíram nossas vidas, nós iremos destruir tudo!”

Que conclusões podem ser tiradas das manifestações e qual é o significado desta mobilização para o movimento radical Grego?

Primeiramente, há uma questão de definição. Revolução ou Revolta? Como colocou Max Stirner, revolução é um processo iconoclasta guiado pelo desejo de substituir velhos “ídolos” por outros novos. Em contraste, através da revolta, o “eu” das pessoas está tentando recuperar tudo o que lhe foi roubado. Deste ponto de vista esses dias incendiários de dezembro não foram uma revolução, mas pura revolta. Essa conclusão nos leva a um ponto de crítica duplo – que é a significância interna e externa desses dias para os radicais da Grécia.

O componente interno tem a ver com o movimento em si. Faz muito tempo desde que ativistas anarquistas, anti-autoritários e autônomos foram elogiados por “cidadãos de bem” e por uma porcentagem significante da opinião pública. Parece que as partes mais duras e radicais da vida política grega renovaram suas obrigações com a sociedade, a despeito da constante e negativa propaganda estatal. Somado a isso, todas as marchas, assembléias, e ações alternativas em geral que aconteceram em nome desta revolta geraram novas expectativas e responsabilidades. Faz tempo que facções radicais lidam com lutas anti-capitalistas e anti-estado, de formas mais consistentes e organizadas – além da violência.

O componente externo preocupa em relação à emancipação dos movimentos da custódia da esquerda institucionalizada. Comunistas ortodoxos assim como euro-comunistas e o restante da esquerda alternativa, mas institucionalizada, foram totalmente incapazes de tomar o controle desta extensa ação. Suas ferramentas “científicas” marxistas de análise histórica não puderam prever nem explicar o orgasmo revolucionário que atingiu Atenas (e muitas outras cidades gregas). Como resultado, o Partido Comunista Grego começou a falar sobre os provocadores que sabotaram os objetivos da classe trabalhadora, enquanto a Liga Radical de Esquerda está fazendo declarações ambíguas, com o propósito de ganhar o máximo possível de votos nas próximas eleições.

A revolta recente de Atenas tem muito a ensinar a cada movimento social radical europeu – e não apenas europeu – sobre ação direta, sem porta-vozes e representantes, e que irão constituir o primeiro passo contra o capitalismo e o Estado, sem esquecer a sua abolição. Afinal de contas, como disse Errico Malatesta: “Não alcançaremos a anarquia hoje, nem amanhã, nem em dez séculos. Caminhamos para a anarquia hoje, amanhã, sempre...”

Christos Iliopoulos




*O título em inglês seria "We Wish You a Merry Crisis and a Happy New Fear". No português, o trocadilho perde o sentido.

domingo, 13 de setembro de 2009

"a verdade vos libertará" [Jo 8:32]

Meus amigos do Akeldama enviaram pra mim o mais novo manifesto deles. Reproduzo-o abaixo, devidamente traduzido:


"a verdade vos libertará. [Jo 8:32]"


Como anarquistas cristãos nós não queremos uma edição “cristã” do anarquismo, nem uma “anarquista” do cristianismo. Ao invés disso, tentamos trazer as dimensões políticas do Evangelho e da tradição cristã teológica. Essas dimensões são, para nós, de um caráter anti-autoritário e de uma visão fortemente crítica em respeito a qualquer ideal estatal-utópico. Esse entendimento vem de:

[A] A mensagem messiânica do Apocalipse. Onde qualquer discriminação, qualquer dominação, qualquer moralismo dualista são cancelados em uma comunidade constituída pela obediência ao chamado de Cristo pela unidade sem fim através do amor ilimitado.

[B] A tradição teológica patriótica. Que é a interpretação dos pais da Igreja da mensagem messiânica dos Evangelhos, a fim de proteger a liberdade messiânica da Igreja do domínio do Estado sobre ela. Os seus cuidados pastorais nos deixaram monumentos teológicos, especialmente sua antropologia e sua eclesiologia, de grande importância para o entendimento da liberdade, tanto num contexto social como um feito pessoal. Também, seus pensamentos e práticas deixaram traços, ilhas de luz, sobre o corpo das práticas diárias na vida de uma igreja e de uma sociedade enlouquecida por uma “árvore de conhecimento”.

[C] A tradição asceta. Embora o ascetismo cristão tenha suas origens de movimentos dualistas pré-cristãos, sua motivação (a reação contra a institucionalização da Igreja no Império Romano e a preservação da integridade messiânica) e seu caráter cristão lhe deram uma forte perspectiva crítica contra qualquer poder (dentro e fora da Igreja) – como uma espécie de consciência eclesiástica. Essa longa tradição deixou um tesouro de traços tanto na literatura como na experiência comum.

Ambos os acima criticam a utopia de um estado “salvador” e seus pilares: direito civil, sistema monetário e a sociedade burguesa. O que procuramos é por (a) uma documentação daquele corpus teórico, assim como (b) a interpretação daquele conhecimento empírico, e a realização de todos esses em nosso pós-moderno, mas realmente ainda antigo mundo.

Todo esse esforço não é uma simples expedição acadêmica, mas vem de nosso amor pessoal pela atualidade do Corpo de Cristo (Ecclesia-Mundo) e começa a partir de nossa experiência pessoal da comunhão de seu Corpo (Ecclesia-Vida).



quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Medo

Deu hoje no Estadão: "Lula institui dia da 'Marcha para Jesus'".

Não sei o que é mais intrigante nessa reportagem:

- Lula orando;

- Casal Hernandez de volta ao Brasil todo serelepe;

- O Michel Temer (suposto satanista) num evento desses;

- A merda que o governo tem que institucionalizar uma marcha que lembra os dias que antecederam a ditadura.


Isso me revolta. Realmente me deixa puto!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Post matinal (matinal até demais)

Passou ontem no Jornal da Globo o Lula falando sobre o pré-sal: "é uma dádiva de Deus". A Cibele, rápida que só ela, engatou: "ah, é o Nilo agora..."

Eu não podia perder esta, haha.

Agora são exatamente 06:24 da manhã, começo hoje em um emprego novo, numa fase nova. Animado que só!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Godwin de c* é r*la.

Estava eu a debater ociosamente em uma comunidade do Orkut (oh céus!) em um assunto interessante, onde um cidadão declarou preferir "homofóbicos assumidos" a um "viado enrustido". Oras, eu, no auge da minha boa vontade e ironia, repliquei que "Essa modinha dos intolerantes assumidos colou legal na Alemanha lá pelos idos de 1930, e vê lá o que que deu!"

De pronto, uma senhora logo conclamou a famigerada "Lei de Godwin". De pronto, assumo que não conhecia tal lei, mas após uma breve incursão mundo digital adentro, descobri do que esta tratava.

Compreendo que, sendo mal-usado, o exemplo do nazismo realmente põe fim à uma discussão, e pode nos levar ao que Schopenhauer chamava de "acabar com um debate sem ter razão". Entretanto, o ponto aqui é outro.

Na comunidade, declarei que não faria uma explanação longa sobre a declaração do primeiro cidadão, primeiro, por não ter que obrigar as pessoas da comunidade a lerem algo que possa ser maçante para alguns; segundo, porque meu ego também não era pra tanto. Porém, no meu blog, posso escrever o que quiser, e exercitar meu ego, meu super-ego e até o meu id!

Voltando ao assunto. Primeiro, numa sociedade em que existem "homofóbicos assumidos", e onde estes detêm o poder (e as suas vontades), logicamente a geração de "viados enrustidos" será inegável. Se nosso amigo lá de cima quer acabar com os enrustidos que lhe tiram tanto o sono, deve acabar primeiramente com os "assumidos" da questão.

A lei de Godwin. Num caso como esse de homofobia clara e explícita, só podem haver comparações ao nazismo. Por que? Conforme nos diz uma longa gama de estudiosos, sociólogos, cientistas sociais, psicólogos sociais, e outros mais, crenças que vão se estabelecendo aos poucos em uma determinada sociedade, e não são contestadas, acabam por se fixar no ideário geral da mesma. Assim foi na Alemanha pré-nazismo (e durante o nazismo, óbvio). E isso temos que evitar hoje também. Se um Zé Ruela qualquer vem e faz uma apologia ao ódio, seja contra quem for, deve ser rechaçado de todas as formas. Na Alemanha nazista, começou contra os judeus, os ciganos, a posteriori, estendeu-se a deficiente físicos, gays, negros, poloneses, russos, qualquer um que não pertencesse à "raça pura"!

Agora, surge a questão. Todo o povo alemão era "malvado"? Lógico que não! Eram "vítimas" de seu meio, do discurso vigente que provinha das bocas dos que estavam no poder, das tradições arraigadas de seus ancestrais, e assim foi colocado tudo como "natural". É isso que queremos para nós hoje?

Quando evoquei no citado caso o nazismo, não foi sem saber o que falava, puramente para exaltar um período de terror e encerrar uma discussão, foi exatamente por saber o que falava!

Como diz o título desta postagem, Godwin de cu, é rola!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sensação do dever cumprido

Creio que a maioria das pessoas com as quais eu convivo já estava sabendo da tarefa à qual me propus, traduzir o livro "Anarchy and Christianity", do filósofo-teólogo-anarquista francês Jacques Ellul.

Terminei ontem a tradução, apesar de sempre pensar que poderia ter feito melhor. O livro em si é fantástico, e traduzí-lo, fez com que eu o lesse de uma forma ainda mais intensa. Aqueles que se interessarem pelo livro, me avisem que eu mando o .doc.

Agora, notícias novas. Eu, o Maikon e o Neander estamos estreando um blog a seis mãos, o "Chatos a Três". Ele ainda está em processo embrionário, mas acho que logo deve começar a funcionar de uma maneira mais efetiva. Como o próprio subtítulo do blog diz, ele será um espaço onde daremos "pitacos em assuntos nos quais não temos propriedade alguma."

Essa foi uma semana produtiva. Segunda-feira, volto a trabalhar, feliz e contente (mesmo!).


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O poder e o diabo.

Trecho retirado do livro "Anarchy and Christianity", de Jacques Ellul:


"Quando Jesus começou seu sacerdócio público, os Evangelhos contam a história da sua tentação. O diabo o tenta três vezes. A tentação importante nesse contexto é a última (em Mateus). O inimigo leva Jesus à uma alta montanha e mostra a Ele todos os reinos do mundo e a sua glória: 'E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares' (Mateus 4:8-9), ou: 'E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.' (Lucas 4:6-7). Novamente, minha preocupação não é com a veracidade dos escritos nem com os problemas teológicos. Minha preocupação é com os pontos de vista dos escritores, com as convicções pessoais que são expressas aqui.

Não deixa de ter importância enfatizar, talvez, que os dois Evangelhos foram provavelmente escritos com comunidades cristãs de origem grega, não judeus que eram influenciados pelo ódio ao qual nos referimos anteriormente. A referência nestes textos, então, é ao poder político em geral ('todos os reinos do mundo') e não somente à monarquia de Herodes. O mais extraordinário é que de acordo com esses textos, todos os poderes, todo o poder e glória dos reinos, tudo o que tem a ver com política e autoridade pertence ao diabo. Tudo lhe foi dado, e ele dá a quem ele quiser. Aqueles que tem o poder político recebem dele e dele dependem. (É impressionante que em inúmeras discussões teológicas de legitimidade do poder político, ninguém nunca invocou estes textos!). O fato não é menos importante do que o fato de que Jesus rejeitou a oferta do diabo. Jesus não replicou ao diabo: 'Isso não é verdade. Você não tem poder sobre reinos e Estados.' Ele não disputa esse direito. Ele recusa a oferta porque o diabo exige que Ele deveria se prostrar perante ele e adorá-lo. Esse é o ponto base quando Ele diz: 'Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.' (Mateus 4:10). Podemos assim dizer que entre os seguidores imediatos de Jesus e na primeira geração de autoridades políticas cristãs – que nós chamamos de Estado – pertenceram ao diabo, e aqueles que mantiveram o poder receberam-no dele."


Senhores senadores, deputados, prefeito, vereadores, reitor... Estão sentindo seus fundilhos queimarem???

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Ah, o poder...


Olhem esses olhinhos serelepes, esse sorriso bobo matreiro (que de bobo não tem nada), esse bigodinho meio grisalho que lhe confere um leve ar hitleriano, esse terno azul royal horrível, cujo valor provavelmente poderia alimentar umas três famílias (ou mais) do Maranhão ou do Amapá!

Quando vocês vêem uma figura assim, carismática, simpática, não dá uma vontade de subir pelado numa cadeira e cantar: "ah, eu sou brasileeeeeiro..."

Eu queria ter um avô como ele. Na pior das hipóteses, iria ter um emprego bem remunerado e sem precisar trabalhar.

O Sarney me lembra o Mickey Mouse.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Περιέργεια!

Se olharem atentamente, no menu ao lado, onde ficam os blogs que eu leio, vai ter um em grego. Antes que pensem que é para eu me achar, ou qualquer coisa do tipo, esclareço que ele é de um grupo anarcocristão da grécia (o Akeldama), com o qual comecei a manter um contato, ainda superficial. Pois bem, eles me passaram o blog, e lá fui eu dar uma olhada.

Obviamente, era tudo em grego. Há!

Entretanto, munido de muito otimismo, fui ao meu grande amigo Google Translator. Ajustando de grego para português, não é que deu para entender??? Obviamente a tradução não sai perfeita, mas dá pra pegar o contexto do post em si.

Em um dos posts, eles falavam sobre a presença de imigrantes em terras gregas, mostravam-se favoráveis a esses, o que me levou a pensar como deve ser diferente a luta em países de "primeiro mundo", ao menos em alguns aspectos. Lá eles tem que lutar pró-imigrantes, lutar por pessoas que não conhecem, que o único vínculo é o de humanismo e direitos humanos, enquanto aqui, lutamos pelos emigrantes por quase um sentimento fraterno, de simpatia, de saber o que é viver no lado de baixo do equador e muitas vezes ter que ir para outro país por conta de melhores condições.

Hoje uma nova perspectiva se abriu na minha cabeça. Gosto disso. E passei a respeitar ainda mais esses gregos loucos.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Revolucionários, reacionários...

Acho Bukowski um escritor do rabo (pra usar palavras dele mesmo). Gosto da sua escrita crua, da sua hipocrisia e sua coragem em assumir a mesma. Meu querido amigo que gosta de uma polêmica/debate, Maikon K., alega não gostar muito do velho Buk por conta do seu posicionamento reacionário. Eu acho que é porque o Bukowski não ia muito com a cara do Ginsberg, queridinho do MK.

Picuinhas à parte, parei para pensar no que pode ser "revolucionário" para alguns e não para outros. No tocante a escritores, enquadro Bukowski, Trevisan e até mesmo Nelson Rodrigues, ouso colocá-los no mesmo barco. Não por conta dos seus escritos, mas pelo perfil "revolucionário" deles.

Espera aí, Nelson Rodrigues, revolucionário? O homem que disse que o marxismo e o Brecht acabaram com o teatro moderno?

Sim, à sua maneira, o ilustre tricolor era revolucionário. Ao escancarar a sociedade carioca e seus podres, assim como fez o genial Dalton Trevisan em relação à sociedade curitiboca, e o velho Buk com o american dream.

Desmontar ideais, conceitos, discursos vigentes... Na humilde opinião desse que vos escreve, é uma postura muito mais radical do que se filiar a um partido e assim colaborar para a manutenção de um status quo, mesmo que do lado "esquerdo".

Vejo os três senhores como pessoas à margem dos dias que viveram, que de uma maneira peculiar souberam traduzir e transmitir os problemas que enxergavam. Concordo que a exploração de pessoas por conta de um mercado consumidor é um problema gravíssimo, mas de nada irá adiantar se não mudarmos os paradigmas morais que já estão enraizados na nossa sociedade.

Nesse ponto, sou obrigado a concordar na crítica do Nelsão em relação ao marxismo. Ou talvez seja aos marxistas, que criticam a Bíblia mas agarram-se ao Capital de forma cega, e pensam somente no econômico.

"Ó geração incrédula!"

terça-feira, 21 de julho de 2009

Univille derruba sala do Centro Acadêmico de História

O presente texto é escrito no calor das notícias e na falta de informação sobre o tal fato encaminhado pela Univille e o Departamento de História.


E a cada passo que se dá em busca do pote de ouro, parece que o arco-íris mais se afasta. É esse o sentimento que paira quando um ato de extrema falta de respeito à história e a democracia acontece na busca por uma excelência baseada em números e tabelas.

No ano de 2007 o Centro Acadêmico Livre de História Eunaldo Verdi - CALHEV - completou 20 anos de história em um evento que, no mínimo, fez acreditar em um respeito da direção da UNIVILLE pelo movimento estudantil da instituição, quando, do alto de sua saleta que parece fazer parte de outra realidade dimensional, o magnífico reitor apareceu para prestigiar as comemorações. Infelizmente foi apenas um jogo de aparências.

Após esse fato presenciamos mais uma vez a falta de diálogo com os estudantes no aumento da mensalidade de 2007 e 2008, a extrema ausência de transparência no processo de mudança de grade curricular das licenciaturas (lembrando que o curso de história teve de forçar a sua entrada nas discussões) e, por último, a rasteira final e a facada nas costas dos homens de terno e das mulheres de tailleur (ou vice-versa): a tomada da sala de reuniões do CALHEV. Sem aviso, sem conversas e sem nenhuma desculpa, tomaram um espaço conquistado pelos discentes, usado há anos para a luta em prol de uma melhoria na qualidade da educação.

O processo é completamente inverso do que encontramos no sorriso dos deuses do universo univilesco! A fala reinante é de democracia, diálogo, crescimento mútuo e outros elementos que, no fim, não passam de chicotadas e pressões que os alunos são obrigados a acatar. Isso é absurdo! Uma universidade deve ser um espaço de vivência e diálogo, situações essas que estão muito além da sala de aula e, que tem no movimento estudantil a grande possibilidade de existência. Infelizmente esse crescimento não é passível de conversão em pontos e porcentagens, não entrando assim nas contas das pró-reitorias.

A restituição da sala do CALHEV deve ser imediata, tal qual a criação de um espaço de convivência e de novas salas para outros centros e diretórios acadêmicos da universidade. E isso tudo em local viável, não escondido nos cantos escuros recém adquiridos.

Por fim, é importante o registro que nos disponibilizamos, mesmo não estando mais diretamente ligados ao movimento estudantil da instituição, a trabalhar junto ao CALHEV no intuito de resgatar e preservar a memória do movimento estudantil de história da UNIVILLE com todos os seus anos de envolvimento e o alargamento na visão do fazer política.



Filipe Ferrari - Ex-Presidente gestão Tempos Inconvenientes (2005/2006)
Maikon Jean Duarte - Ex-Presidente gestão 30 de agosto (2006/2007)
Douglas Neander Sambati - Ex-Presidente gestão Unimultiplicidade (2007/2008)
Felipe Rodrigues - Ex-Presidente gestão 05 de maio (2009/2010)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Blá-blá-blá...

Coloquei ali embaixo à direita, a opção de "Seguidores". Fiquem à vontade, ora pois.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ainda há esperança!

Hoje, enquanto andava pelo mercado, vi que o nosso país ainda tem salvação:

(Não, a foto não foi tirada aqui em casa, peguei na net)


Stella Artois de 1 (um) litro!! O preço, se comparado à outras cervejas, é caro (7 moedas de real), mas para uma Stella, tá dentro das perspectivas.

Já era hora das indústrias cervejeiras olhar para nossos hermanos e começar a fazer cerveja de gente aqui no Brasil.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Comentários e reflexões.

Fiquei espantado com o número de comentários que o post anterior gerou, sério. Seis comentários são algo um tanto quanto incomuns nesse árido blog (árido de posts e de comentários, hehe). Obviamente meus sempre aqui presentes amigos comentaram, e teve a presença de uma moça ali que eu não conheço mas que estou devendo já uma visita ao blog dela, coisa que prometo fazer uma hora dessas com mais tempo e calma.

Entretanto, um dos comentários me chamou a atenção e me fez pensar um pouco a respeito no que eu escrevi, e pensar até mesmo na minha trajetória de vida. Esse comentário foi do meu amigo Neander.

Um comentário inteligente e lógico, como é normal dele, porém que me surpreendeu em algumas coisas. Douglinhas, na hora que você diz/escreve "Não consigo ver como uma religião, tal qual um partido político ou a própria universidade, pode gerar algo positivo.", sou o primeiro a concordar contigo, e o meu post anterior, apesar de não explicitar isso (um defeito meu, eu às vezes escrevo quase que só para os que me conhecem), era pra ter deixado isso meio claro, mas passou batido.

Entretanto, em seguida vem o seguinte: "eu vejo que acabar com essas instituições seja a melhor saída para uma luta por seres humanos que acreditem na igualdade e, como acredito que a religião criou deus e não o inverso, vejo no combater a idéia de uma força superior como um dos objetivos". A primeira parte complementa o que foi escrito anteriormente, entretanto, a segunda parte dessa frase me surpreendeu. Oras, jogar religião e religiosidade foi um "erro comum" do século XVII, XVIII, onde anti-clericalismo e anti-teísmo se confundiam (também já falei isso no post anterior, o nosso Cheff complementou nos comentários), e Deus e Cristo, e a mensagem desse, é algo que escapa à nossa compreensão e aos nossos preceitos e morais.

Obviamente poderíamos escrever uns cinco tratados sobre isso, mas crença em Deus é algo que se testifica pela fé, e a crença, assim como a não-crença, são conceitos que estão na nossa cabeça e que provar por a+b é uma tarefa quase impossível, seja a minha fé ou o niilismo que você deixou transparecer nessas linhas. O trabalho de acreditar ou não acreditar é o mesmo, e o motivo, advém de nossa experiência de vida.

Acho perigoso também a fala de "destruir instituições", no sentido de jogar nelas a culpa da nossa impotência e ficarmos em casa com as bundas nos sofás pregando o nosso discurso enquanto existem pessoas nas igrejas ou nas universidades que fazem muito mais pelo mundo através destas instituições (nada como estudar o Kropotkin com o MK, hahaha). E Douglas, por favor, não entenda isso como uma crítica, mas como uma mea culpa de minha parte.

Finalmente, já sendo quase redundante na minha fala, tem por fim na sua escrita "como acredito que a religião criou deus e não o inverso". Bem, aí sou eu que não concordo com nada, nem com a religião ter criado Deus, nem com o inverso. A primeira metade, não vou ficar devaneando por conta das questões de fé, já a segunda, Deus nunca criou a religião, assim como Cristo nunca proclamou alguma religião, é só ler os evangelhos com atenção. Caso o contra-argumento seja o versículo de "tu és Pedro, e sobre ti, edificarei minha Igreja", esse não vale, pois a Igreja a que Cristo se referia, era à Igreja viva, com "I" maiúsculo mesmo, viva nas pessoas, nas obras e no servir, não na farsa institucionalizada que alguns séculos depois Constantino incorporaria ao estado romano e se tornaria a maior heresia possível: a igreja católica apostólica romana (sim, minúsculo mesmo). Se alguém teve uma parcela de "culpa" nisso, podemos colocar em Paulo (o apóstolo), que apesar de ter acertado em muitos aspectos, errou em outros (ou foi muito mal interpretado), mas este era humano e falho, e assim como todos nós, também errou.

Enfim, como o Maikon uma vez comentou uma vez aqui nesse mesmo blog, é de debates construtivos que precisamos nessa blogosfera local! :) Abraços Douglas, e não leve por mal ;)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

"La destra de Diós..."

É muito comum dentro da Bíblia, encontrarmos a figuração da "destra" de Deus, como se Ele não pudesse ser canhoto, como o Rivelino. Brincadeiras a parte, é interessante sempre pensar e relembrar do discurso de termos tal qual "direita" como algo bom, louvável, que protege. Já o termo "canhoto", vem de "canhestro", que vem do latim com o significado de "coisa ruim", o (im)popular diabo. Na idade média, pessoas hábeis com a mão esquerda eram considerados bruxos, hereges e afins.

Na literatura mais atual (atual aqui me refiro a pós 1950), é comum encontrarmos o termo "canhoto das idéias", para designar aqueles que posicionavam-se à esquerda de um mundo dividido (claramente, diga-se de passagem) entre esquerda e direita.

Mas por que esse blá-blá-blá todo agora?

Qual é a ligação entre cristianismo e direita (agora politicamente falando)? Em que momento um discurso, uma vontade de poder, apropriou-se de uma mensagem viva de amor e liberdade e passou a usá-la como opressora e discriminatória, numa inversão da retórica evangélica de fazer inveja ao alemão bigodudo.

No mundo atual, creio que o evangelho aproxima-se muito mais dos discursos de "esquerda" do que os de "direita" (utilizo aqui velhos termos para separar velhas coisas), por conta da intenção dos canhotos da idéia de buscar a justiça e a igualdade aqui na terra. Basta pensar no que disse Cristo em Mt 6:33: "Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas." Jesus aqui nada fala de "buscai primeiro o reino de Deus e a sua moralidade, ou a sua lógica", mas sim a sua justiça.

Cabe pensar aqui, que a ojeriza da "esquerda" em relação à Cristo e à Sua palavra, deve-se e muito à igreja católica e sua dominação por vários séculos nas mentes, costumes, vontades e interesses humanos. A partir dos séculos XV, XVI, temos um anti-clericalismo forte na Europa, que mais tarde se converteria, injustamente, em um anti-teísmo, e que permanece meio entranhado nos movimentos que buscam uma mudança do status quo.

Justiça aqui seja feita, muito (não tudo) da mudança desse panorama deve-se também à igreja católica, principalmente na América Latina, com a Teologia da Libertação (temos aqui também luteranos, pentecostais e ecumênicos, mas tento ser breve).

Hoje, na minha pequena caminhada de vida e de fé, vejo que, muitos desses teólogos da libertação, estavam imbuídos da melhor intenção possível, mas sem saber dosar a ação e a reflexão, mas não falo isso como uma crítica, penso o quanto deve ser complicado ajoelhar e orar enquanto companheiros, pais de família, jovens, são levados no meio da noite e nunca mais voltam. Eram tempos dificílimos, que geraram homens fortes, com idéias fortes, caçados e perseguidos não só por um governo ditatorial, mas também pela própria "mãe" deles, a igreja. Perguntem ao cardeal Ratzinger.

E mais ainda, hoje penso, por que confiar somente na destra de Deus? Penso nEle como um ambidestro...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Para Marco Aurélio.

Depois da nossa conversa de hoje, me vieram algumas palavras de Jack Kerouac, saídas da boca do seu imortal personagem Dean Moriarty;

"Decidi abrir mão de tudo. Você me viu quebrar a cara tentando de tudo, me sacrificando, e você sabe que isso não importa; nós sacamos a vida, (...) - sabemos como domá-la, sabemos que o negócio é continuar no caminho, pegando leve, curtindo o que pintar da velha maneira tradicional. Afinal de contas, de que outra maneira poderíamos curtir? Nós sabemos disso."

Não preciso dizer mais nada, não é meu velho amigo de fé, meu irmão camarada?

Considerações a mais e quilos a menos...

Àqueles que não sabem, ando fazendo uma dieta, supervisionada por uma nutricionista e aquele blá-blá-blá todo. Nos primeiros meses, a coisa não deu um resultado muito notável, e foi até desanimador.

Entretanto, nesses últimos tempos, tenho perdido bastante peso, e a coisa vem se desenvolvendo de uma maneira até que satisfatória. Cabe dizer que a dieta aqui em questão não é por fins puramente estéticos, e uma busca pela "beleza magra", até porque "magro", na pura acepção da palavra, nunca serei, por uma questão de constituição corporal, mas meus antigos 127 kg no meu 1,78 m de altura, chegavam a ser algo sufocante e nem um pouco saudável.

Agora, com meus atuais 105 kg (e descendo!), descobri um outro prazer, a caminhada/corrida, pelas ruas por vezes desoladoras de Jaraguá do Sul. O sair de casa específico para isso, o ar das ruas, o movimentar para uma atividade física, são coisas reconfortantes e proveitosas. Nessas horas, lembro sempre do meu caro amigo Maikon K., que sempre fala do prazer de andar pela cidade, e eu vejo que isso é verdade, mesmo não me sentindo em casa nessa cidade.

Em tempo, meu emagrecimento seria quase que improvável, se não fosse pelo apoio incondicional da minha esposa e companheira de todas as horas, a Cibele, com seus "como você tá bonito", ou com seus puxões de orelha, muitas vezes necessários.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Banner


Estreia hoje aqui no blog, o lindíssimo banner, que meu caro irmão Marcelo fez, sem eu nem precisar pedir, hehe.

Gurizoto, muito obrigado, gostei pra caramba!



terça-feira, 12 de maio de 2009

Carta para o velho safado.



Caro Bukowski:

- obrigado por me livrar da ditadura da maiúscula; da amarra do parágrafo, da tortura impessoal da regra;

- obrigado por me ensinar a acordar dos porres, e encarar as consequências destes, como "o cagalhão fresco de cachorro que o sapato não viu hoje de manhã outra vez";

- por me mostrar que a vida pode ser também uma merda apaixonante;

- por mostrar que devemos nos fazer de fortes quando jovens, e nos retratarmos dessa besteira quando velho;

- quando nos encontrarmos - onde estará você? - que eu possa lhe perguntar o por que considerava Mickey Mouse nazista;

- depois disso, bebamos juntos algumas doses de Cutty Sark com água, algumas caixinhas de cerveja com meia dúzia, e suspiremos: "ah, a polícia onipotente, ah, armas poderosíssimas, ah os ditadores tirânicos, ah, os grandes burros de merda por toda parte, ah, os polvos solitários, solitários, ah, o tique-taque do relógio exaurindo o hasto vital de cada um de nós, sensatos e desequilibrados, santos e constipados, ah, os pés-rapados caídos pelos becos da miséria de um mundo dourado, ah, as crianças que ficarão medonhas, ah, os medonhos que ficarão ainda piores, ah, a tristeza..."

então ouviremos a voz que você tanto esperou Buk, mas não clamando, e sim concedendo misericórdia, e sentaremos nós dois, imaginando a sua estátua no Kremlin, enquanto esperamos o telefone tocar.




Obs: as citações entre aspas são do conto "Dei um tiro num cara lá em Reno", do livro Fabulário geral do delírio cotidiano: Ereções, ejaculações e exibicionismos - Parte II. O autor acho que não é necessário dizer.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Por quantas estradas?

Há alguns dias, escutei a música Blowin'in the wind, do Bob Dylan, e de chofre, a primeira frase já me chamou a atenção:

"How many roads must a man walk down, before you call him a man?"

Parei para pensar em outro aspecto que sempre me chamou a atenção em músicas e na literatura: o saudosismo, a saudade de um tempo que já passou, e então percebi que hoje em dia, já sinto saudade de um tempo que já passou.

Sinceramente, não sinto uma saudade ingrata dos meus "doze anos", como o Chico. Creio que a infância é um período que realmente deve passar, mesmo sendo extremamente importante. Hoje, sinto saudade de um tempo recente, de amigos que estavam sempre ao meu lado. Talvez essa saudade também não seja do tempo em si, mas sim de momentos que passaram, pois não trocaria a vida de hoje pela já passada, mesmo com toda a dificuldade que esta traz.

Dentro disso, me dei conta que isso marca uma vivência de minha parte. Quando declaro que não tenho uma saudade exacerbada da infância, foi porque sempre quis meio que passar rapidamente por ela. A idéia de ser adulto me fascinava. Hoje vejo que não é bem assim, mas que a vida, dentro dos parâmetros dela, vale sempre a pena. Porque será que não nos damos conta da felicidade no momento em que estamos passando, e sempre pensamos no que passou? Deixo a resposta novamente com Dylan:

"The answer my friend, is blowin'in the wind"
.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma campanha necessária.


Entrando na campanha do blogueiro Maikon K, vou reproduzindo o banner, conforme o pedido aqui.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Eu, Orwell, instituições, drogas e minha mãe.

Estava a pensar dias atrás de onde vem esse meu jeito meio "torto" de pensar. Meus pais não tem como qualidade principal o pensamento libertário, entretanto, não podem também ser chamados de conservadores, é uma palavra pesada... Me lembrei então de uma das minhas primeiras leituras "subversivas". Foi aos 11, 12 anos de idade. Minha mãe, na ânsia de despertar em mim o gosto da leitura, me entupia (no bom sentido) de livros infanto-juvenis, e entre eles, um dia ela me apresentou um chamado "A Revolução dos Bichos":

- Olha filho, é um livro onde os bichos de uma fazenda falam, andam em pé, e mandam o dono embora...

Se ela soubesse o que ia plantar na minha cabeça... Apesar de que hoje sei que ela tem muito orgulho de mim. Entretanto, voltando ao livro, li e gostei. Tanto gostei que li e reli incontáveis vezes, e conforme crescia e amadurecia, entendia o que realmente queria dizer o livro, que ia muito além dos bichos falantes. Certo tempo depois, notei nas estantes da minha casa, outro livro do George Orwell, o 1984. E a edição era de... 1984! Nada a ver com a história, mas enfim... Li 1984, e gostei ainda mais, pois já era um pouco mais velho, e este não era tão "inocente" como o outro, sem bichinhos falando, era mais direto no que o velho Orwell queria retratar.

Com isso, idéias foram amadurecendo na minha cabeça, outras fora entrando, ganhando espaço, e assim a coisa foi. Hoje, entendo o porque tenho certo asco contra instituições, e e aí que começa o que realmente queria escrever hoje.

Vendo hoje alguns trechos do Jornal do Almoço, estava uma discussão sobre a marcha da maconha, e a possível liberação desta. É estranho como o Estado assume a chancela das proibições e liberações cabíveis aos cidadãos. Assim como era contra o desarmamento, sou a favor da liberação da maconha. Não que eu queira comprar uma Magnum, e com um baseado na boca ficar bem louco e garantir a minha segurança pessoal na bala, mas não creio que seja papel do Estado se intromenter e restringir o acesso das pessoas ao que elas desejam. É tão ridículo quanto o tal do "toque de recolher" imposto em Fernandópolis (SP). Reduz a violência? Reduz. Mas e a liberdade das pessoas? É só lembrar que em ditaduras, a violência urbana cai a praticamente zero, assim como é na China e em Cuba.

A liberação da maconha entretanto, não poderia ser como na Holanda, onde é parcialmente liberada. Não existe liberdade parcial. Ou as pessoas são livres para fazer ou não são. Isso é tão absurdo quanto o cara que declarou no Jornal do Almoço que é contra a maconha por ela ser uma "erva alucinógena". Fiquei imaginando a cena:

- E aí cara, tem unzinho?
- Tenho.
- Dá uma bola?
- Pega aí!
(fssssss...)
- Pô, do bom... AAAAAAAAAAAHHHHHHH!!! UM DRAGÃO! CORRAM PELAS SUAS VIIIIIDAAAAS!!!
- ...
- Será que o dragão tem mais unzinho pra gente queimar?


quinta-feira, 23 de abril de 2009

Viagens, mais viagens.

Este final de semana de feriado, foi mais um de viagens. Fui até Curitiba, passei uns dias por ali, e depois fui até Capanema (que fica a aproximadamente 600 km da capital paranaense, no outro extremo do estado). Foi um final de semana de boas companhias (primos que são como irmãos), boas risadas, boas comidas. Ao mesmo tempo, foi um feriadão também solitário, pois a Cibele ficou em Jaraguá, a fins de trabalho.

Foi também um final de semana de descobertas, descobrir algumas raízes, ótimas raízes. Descobrir histórias de família antigas e também recentes.

Foram dias de pensar em "não deixar pro meu filho, a pampa pobre que herdei de meu pai".




Fui obrigado a postar, estavam reclamando anonimamente, hehehe...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Viagens

Eu adoro a BR 101. Engraçado que eu sempre senti isso, mas apenas hoje consegui externalizar isso não somente para os outros, mas para mim também. Andar na 101 pra mim geralmente é um motivo de alegria, e a sensação de estar com o "pé na estrada" é sempre revigorante para mim.

Tal sentimento está diretamente ligado à cidade de Joinville, quando há algum tempo atrás eu descia a serra quase todo final de semana, depois me estabeleci de vez na cidade, e daí subia a serra para rever minha família e meus amigos. Serra essa sempre imponente quando se está pelos lados do Rio Bonito, serra essa que surge como uma muralha a separar duas partes extremamente distintas da minha vida. Certo tempo depois, me estabeleci temporariamente em Jaraguá, mas eu não gosto da BR 280.

A 280 é uma estrada triste. No caminho para Jaraguá, a partir da 101, já começa com suas zonas tristes, cheias de putas tristes. Além disso, os motivos que me levavam a Jaraguá dificilmente eram motivos alegres. Hoje a coisa muda um pouco, pois lá está o meu lar e a minha vida novamente, e em Jaraguá começou outra fase importante da minha vida, mas ainda assim prefiro a 101.

Como diria Kerouac, a estrada é mágica, seja lá pra onde for que ela te leve. Quero poder ainda viajar muito, e, de preferência, que bons motivos me levem.

terça-feira, 14 de abril de 2009

"A beleza salvará o mundo"


A frase acima é do digníssimo Fiódor Dostoiévski, homem que merece nada mais nada menos do que o elogio de "gênio", na acepção total da palavra. Pensando sobre tal citação, não seria ela verdadeira?

O que seria belo? Buscando o contrário, o que seria feio? É muito relativo o conceito de belo, mas vendo alguns dos romances do "inventor do alcoolismo", como diria um amigo meu, temos algumas pistas.

No "Crime e Castigo", por exemplo, temos o assassinato e o consequente thriller psicológico que o autor nos presenteia. O protagonista Rodion Românovitch Raskólnikov vive em becos, seu quarto é um canto obscuro que favorece a depressão do protagonista, os demais personagens são pessoas desgraçadas, marcadas pela vida difícil e opressiva, e Ródion comete o pior dos crimes, um assassinato.

Onde estaria a beleza aí? Na redenção de Raskólnikov no final do livro? Talvez. A beleza se revela ao longo da obra, quando mostra um Rodion humano, tendo medo, pesando a consciência e, apesar da sua teoria de "pessoas superiores", no fundo ele sabe que errou, e mesmo com toda a resistência a admitir isso, seu final é de redenção e aceitação da vida. A beleza não se revela só no fim, mas ao longo do processo de vivência de um ser humano.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Insônia

Estava eu pensando, em uma noite de insônia, sobre o nosso papel hoje no mundo. Estamos cercados de problemas, injustiças, erros, e o que fazemos? Não anseio nem penso em coisas grandiosas tais quais salvar a população mundial, mas sobre como podemos agir em prol das pessoas que nos cercam. Isso me lembra a história de um espadachim do final da era Edo no Japão, que quando foi instaurada a monarquia, ao invés de ocupar um cargo importante no governo, como fizeram os grandes samurais monarquistas da época, preferiu viver como um andarilho, e proteger efetivamente as pessoas que estavam ao seu redor, sem a ilusão de "salvamento em massa" que os cargos públicos muitas vezes podem gerar.

Fugi um pouco de onde gostaria de chegar. Desde pequeno, fui educado como cristão, frequentei a igreja com minha mãe, e até certo tempo da minha vida, isso me bastou. Entretanto, porém e contudo, chegou um tempo em que as paredes de um templo não me bastaram, e procurei a Cristo com outros olhos. Estava cansado do "cristianismo miguxo", onde todos são bons, onde os irmãos da igreja se amam e tudo corre na mais santa paz. Somos humanos, erramos, mentimos, traímos, caímos. É a nossa imperfeição que nos leva a sermos nós.

Eu precisava entender o porque de obedecer a Deus. Muitas pessoas entenderiam isso como um gesto de rebeldia, mas não Deus. Obediência só é válida, quando se entende a origem dela. Se a obediencia for "engolida", vira autoritarismo, e não consigo enxergar Deus dessa maneira. Para um exemplo disso, é só observarmos ao longo dos quatro evangelhos Jesus ensinando, sendo questionado e respondendo, sem negar uma resposta uma única vez, e calando os escribas diante de sua sabedoria (Lc 20:39-40).

E temos também os supracitados cristãos "miguxos", onde se incluem muitas vezes os diretores, conselheiros, ou seja lá qual for a denominação que cada igreja usa, com sua aura de bondade e amor, mas que conseguem entrar no conceito nietzschiniano de "superioridade cristã" (na qual o "perdão" e o "amor" de alguns "cristãos" não é nada mais do que uma forma de vingança por uma vida submissa, e que assumem tal aura como uma forma de vingança às avessas, colocando-se assim como superiores aos demais, pois são capazes da nobreza do perdão acima de tudo). Não consigo crer em pessoas que não mostram suas falhas, seu lado humano. Para mim, todas elas parecem com Pedro, quando este diz que daria a vida por Jesus momentos antes da Paixão (Jo 13:37-38), e logo em seguida sua "vontade" toda cai por terra, quando Cristo diz que este o negaria ainda três vezes naquela mesma noite. O mais incrível, é que o Filho de Deus não recrimina o apóstolo, pois sabe que este é apenas humano, e que dentro desta limitação, é fraco.

Deus é um só, mas se revela das mais variadas formas, da maneira que cada um precisa, pois só Ele conhece nosso íntimo.

Feliz Páscoa!


sábado, 4 de abril de 2009

Dalton Chinaski

Lendo os comentários deste blog que vos faz ler, deparo com o do meu querido amigo Maikon, no post sobre o Dalton Trevisan. Lá, meu dileto amigo escreve o seguinte: "a princípio falas dos bêbados e perdidos da sua cidade seja o maior paralelo se traçar ao Kuwoski. Nada além disso, ao menos é a minha primeira interpretação".

Longe de entender isso como uma crítica, ou de usar esse espaço para criticar, tal comentário me levou a pensar nos dois escritores. Seriam os bêbados e perdidos os únicos paralelos entre tal obras?

Pensando superficialmente, logo me dou conta de outros aspectos. Além das falas do "submundo" das cidades, ambos os autores desmontam a idéia de "paraíso na terra" que existe acerca de suas terras natais (Dalton em Curitiba e Bukowski em Los Angeles e todos os Estados Unidos em um geral).

Tanto a prostituta do velho Buk, de 150 quilos de um metro e meio, que peida, uiva e destroça a cama quando goza, como o Maníaco do Olho Verde que abusa de menores de idade no trilho do trem, e que no fim ainda ergue o dedo acusador contra a sociedade hipócrita e acusa: "Podem me condenar babacas e bundões. O que eu faço? Tudo o que vocês gostariam. Eu sou um de vocês.", do velho Trevisan, são personagens que desmascaram a triste realidade do American Dream ou do já citado palácio de cristal Lerneriano, na capital verde do transporte público exemplar.

A presença de anti-heróis autobiográficos também é um fato marcante. Henry Chinaski seria um irmão gêmeo desfigurado de outro pai do eterno malandro Nelsinho. A leitura nos levaria a dizer que não, haja visto os modos de vida dos dois autores sempre na esbórnia e em bebedeiras, entretanto, um participando ativamente destas, enquanto o outro sempre famoso por estar nas sombras (daí o vampiro?), apenas observando, coletando material. Entretanto, nos seus escritos realizados em uma idade mais avançada, nosso Bukowski deixa transparecer, mostrando até um certo desabafo, que era um covarde, e que não se envolveu em tantas brigas quanto deu a entender.

O obsceno também é fator constante, apesar da diferença gritante de estilo dos dois nesse quesito, vejamos Dalton:

"Nessa hora, se bem entendi, o doutor exibe o que chama de Memorial de Curitiba, com trófeus e escudos pendurados. E manda pegar - ui, que medo!
(...)
- Abre as pálpebras do olho único de Polifemo e recebe a estaca em fogo do belo forte impávido Ulisses"
(Conto Prova de Redação, do livro Macho Não Ganha Flor)

Já em Bukowski:

"Saímos cambaleando pela sala. Rasguei o vestido na gola, abri até a cintura, arranquei-lhe o sutiã. Seios vulcânicos, imensos. Beijei os dois, depois passei pra boca. Levantei o vestido, puxando a calcinha pra baixo. E meti. Comi ela de pé. Depois de gozar, joguei-a em cima do sofá. A buceta ficou olhando para mim."
(Conto Curra! Curra!, do livro Fabulário geral do delírio cotidiano: Ereções, Ejaculações e exibicionismos - Parte II)

É notável o que falo em diferença de estilo :) Obviamente as descrições do ato sexual dos dois não se resume a isso. Bukowski consegue ser mais "delicado", enquanto Dalton não se resume aos "carros do faraó" e solta um bom "caralho" nos seus contos de vez em quando.

Se eu lembrar de algo mais, eu escrevo!

(Alberto! Curitiba de novo?!?)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Outono.

O outono já começou há um certo tempo, mas hoje é que ele deu as caras. Fui dar a minha caminhada, e bateu, bem de leve, uma certa melancolia boa... O céu cinzento, aquele "cheiro" de ar frio batendo nas narinas...

Não sei se é porque me lembra Curitiba, ou se porque é uma mudança, ou porque o verão (que é uma estação que me faz mal, ainda mais nessas paragens) está findando. Nessas horas sempre lembro de Drummond:

"Reparara que o outono é mais estação da alma do que da natureza".

Em busca de Curitiba Perdida.


Estava eu lendo e relendo meus livros de continhos galantes do Dalton Trevisan quando algumas coisas me vieram à cabeça e me deu vontade de colocar aqui.

O tão recluso vampiro de Curitiba, que tem fotos tiradas na surdina, avesso à entrevistas, mostra-se dono de uma sensibilidade ímpar aos miseráveis (talvez encontre algum paralelo em Bukowski), mas também é dono de uma ironia ácida, e de um cinismo pungente.

"Ao internar o marido alcoólatra no asilo, quando perguntam a profissão, ela diz:
- Funileiro.
E o bêbado, em triunfo:
- Isso aí. Agora eu tenho profissão, não é?"

São pequenos contos que, surrupiados ardilosamente de filigranas e demasiadas contextualizações, deixam florescer toda uma vida de dores, amores e frustrações.

"Assustada, a velha pula da cadeira, se debruça na cama:
- João, fale comigo João.
Geme lá no fundo, abre o olhinho vazio:
- Bruuuxa... diaaaba...
- Ai, que alívio. Graças a Deus."

Seus Joões e Marias vagueiam sempre perdidos por uma Curitiba longínqua dos palácios de cristais do primeiro mundo criados pela dinastia Lerner, ou mesmo dos arroubos dignos de Nero de Requião. Perambulam pela Curitiba perdida e, à noite, descem o Largo da Ordem e encontram-se com os travestis da Praça Tiradentes, e, quando lhes é permitido um momento de sossego, lembram-se de uma infância de mãos no bolso.

"Em toda casa de Curitiba, João e Maria se crucificam aos beijos na mesma cruz".

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Quase cem anos de genialidade.


Saiu hoje a notícia da aposentadoria de Gabriel Garcia Márquez, aos 82 anos, um dos principais representantes do chamado "realismo fantástico", e pioneiro nesse estilo na américa latina.

Mais do que isso, "Gabo" foi um dos grandes escritores sulamericanos, que em uma época perigosa, posicionou-se à esquerda de um mundo dividido.

Tal gama de pensamentos transparecem, e muito, em seus romances e contos, mas quando questionado sobre o seu principal tema, sem titubear, ele respondia: "a solidão".

Seus personagens poderiam ser melancólicos, alegres, inteligentes, tapados, irônicos, destinados, predestinados, mas acima de tudo, eram solitários, como todo bom ser humano perdido nos labirintos de suas próprias vidas.


"... porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tem uma segunda oportunidade sobre a terra."

Bomba no Lênin dos outros é refresco.


O velho camarada dificilmente poderá cantar "de pé, famélico da terra" de agora em diante...

Fonte e demais explicações aqui.