sexta-feira, 19 de junho de 2009

Comentários e reflexões.

Fiquei espantado com o número de comentários que o post anterior gerou, sério. Seis comentários são algo um tanto quanto incomuns nesse árido blog (árido de posts e de comentários, hehe). Obviamente meus sempre aqui presentes amigos comentaram, e teve a presença de uma moça ali que eu não conheço mas que estou devendo já uma visita ao blog dela, coisa que prometo fazer uma hora dessas com mais tempo e calma.

Entretanto, um dos comentários me chamou a atenção e me fez pensar um pouco a respeito no que eu escrevi, e pensar até mesmo na minha trajetória de vida. Esse comentário foi do meu amigo Neander.

Um comentário inteligente e lógico, como é normal dele, porém que me surpreendeu em algumas coisas. Douglinhas, na hora que você diz/escreve "Não consigo ver como uma religião, tal qual um partido político ou a própria universidade, pode gerar algo positivo.", sou o primeiro a concordar contigo, e o meu post anterior, apesar de não explicitar isso (um defeito meu, eu às vezes escrevo quase que só para os que me conhecem), era pra ter deixado isso meio claro, mas passou batido.

Entretanto, em seguida vem o seguinte: "eu vejo que acabar com essas instituições seja a melhor saída para uma luta por seres humanos que acreditem na igualdade e, como acredito que a religião criou deus e não o inverso, vejo no combater a idéia de uma força superior como um dos objetivos". A primeira parte complementa o que foi escrito anteriormente, entretanto, a segunda parte dessa frase me surpreendeu. Oras, jogar religião e religiosidade foi um "erro comum" do século XVII, XVIII, onde anti-clericalismo e anti-teísmo se confundiam (também já falei isso no post anterior, o nosso Cheff complementou nos comentários), e Deus e Cristo, e a mensagem desse, é algo que escapa à nossa compreensão e aos nossos preceitos e morais.

Obviamente poderíamos escrever uns cinco tratados sobre isso, mas crença em Deus é algo que se testifica pela fé, e a crença, assim como a não-crença, são conceitos que estão na nossa cabeça e que provar por a+b é uma tarefa quase impossível, seja a minha fé ou o niilismo que você deixou transparecer nessas linhas. O trabalho de acreditar ou não acreditar é o mesmo, e o motivo, advém de nossa experiência de vida.

Acho perigoso também a fala de "destruir instituições", no sentido de jogar nelas a culpa da nossa impotência e ficarmos em casa com as bundas nos sofás pregando o nosso discurso enquanto existem pessoas nas igrejas ou nas universidades que fazem muito mais pelo mundo através destas instituições (nada como estudar o Kropotkin com o MK, hahaha). E Douglas, por favor, não entenda isso como uma crítica, mas como uma mea culpa de minha parte.

Finalmente, já sendo quase redundante na minha fala, tem por fim na sua escrita "como acredito que a religião criou deus e não o inverso". Bem, aí sou eu que não concordo com nada, nem com a religião ter criado Deus, nem com o inverso. A primeira metade, não vou ficar devaneando por conta das questões de fé, já a segunda, Deus nunca criou a religião, assim como Cristo nunca proclamou alguma religião, é só ler os evangelhos com atenção. Caso o contra-argumento seja o versículo de "tu és Pedro, e sobre ti, edificarei minha Igreja", esse não vale, pois a Igreja a que Cristo se referia, era à Igreja viva, com "I" maiúsculo mesmo, viva nas pessoas, nas obras e no servir, não na farsa institucionalizada que alguns séculos depois Constantino incorporaria ao estado romano e se tornaria a maior heresia possível: a igreja católica apostólica romana (sim, minúsculo mesmo). Se alguém teve uma parcela de "culpa" nisso, podemos colocar em Paulo (o apóstolo), que apesar de ter acertado em muitos aspectos, errou em outros (ou foi muito mal interpretado), mas este era humano e falho, e assim como todos nós, também errou.

Enfim, como o Maikon uma vez comentou uma vez aqui nesse mesmo blog, é de debates construtivos que precisamos nessa blogosfera local! :) Abraços Douglas, e não leve por mal ;)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

"La destra de Diós..."

É muito comum dentro da Bíblia, encontrarmos a figuração da "destra" de Deus, como se Ele não pudesse ser canhoto, como o Rivelino. Brincadeiras a parte, é interessante sempre pensar e relembrar do discurso de termos tal qual "direita" como algo bom, louvável, que protege. Já o termo "canhoto", vem de "canhestro", que vem do latim com o significado de "coisa ruim", o (im)popular diabo. Na idade média, pessoas hábeis com a mão esquerda eram considerados bruxos, hereges e afins.

Na literatura mais atual (atual aqui me refiro a pós 1950), é comum encontrarmos o termo "canhoto das idéias", para designar aqueles que posicionavam-se à esquerda de um mundo dividido (claramente, diga-se de passagem) entre esquerda e direita.

Mas por que esse blá-blá-blá todo agora?

Qual é a ligação entre cristianismo e direita (agora politicamente falando)? Em que momento um discurso, uma vontade de poder, apropriou-se de uma mensagem viva de amor e liberdade e passou a usá-la como opressora e discriminatória, numa inversão da retórica evangélica de fazer inveja ao alemão bigodudo.

No mundo atual, creio que o evangelho aproxima-se muito mais dos discursos de "esquerda" do que os de "direita" (utilizo aqui velhos termos para separar velhas coisas), por conta da intenção dos canhotos da idéia de buscar a justiça e a igualdade aqui na terra. Basta pensar no que disse Cristo em Mt 6:33: "Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas." Jesus aqui nada fala de "buscai primeiro o reino de Deus e a sua moralidade, ou a sua lógica", mas sim a sua justiça.

Cabe pensar aqui, que a ojeriza da "esquerda" em relação à Cristo e à Sua palavra, deve-se e muito à igreja católica e sua dominação por vários séculos nas mentes, costumes, vontades e interesses humanos. A partir dos séculos XV, XVI, temos um anti-clericalismo forte na Europa, que mais tarde se converteria, injustamente, em um anti-teísmo, e que permanece meio entranhado nos movimentos que buscam uma mudança do status quo.

Justiça aqui seja feita, muito (não tudo) da mudança desse panorama deve-se também à igreja católica, principalmente na América Latina, com a Teologia da Libertação (temos aqui também luteranos, pentecostais e ecumênicos, mas tento ser breve).

Hoje, na minha pequena caminhada de vida e de fé, vejo que, muitos desses teólogos da libertação, estavam imbuídos da melhor intenção possível, mas sem saber dosar a ação e a reflexão, mas não falo isso como uma crítica, penso o quanto deve ser complicado ajoelhar e orar enquanto companheiros, pais de família, jovens, são levados no meio da noite e nunca mais voltam. Eram tempos dificílimos, que geraram homens fortes, com idéias fortes, caçados e perseguidos não só por um governo ditatorial, mas também pela própria "mãe" deles, a igreja. Perguntem ao cardeal Ratzinger.

E mais ainda, hoje penso, por que confiar somente na destra de Deus? Penso nEle como um ambidestro...