sábado, 4 de abril de 2009

Dalton Chinaski

Lendo os comentários deste blog que vos faz ler, deparo com o do meu querido amigo Maikon, no post sobre o Dalton Trevisan. Lá, meu dileto amigo escreve o seguinte: "a princípio falas dos bêbados e perdidos da sua cidade seja o maior paralelo se traçar ao Kuwoski. Nada além disso, ao menos é a minha primeira interpretação".

Longe de entender isso como uma crítica, ou de usar esse espaço para criticar, tal comentário me levou a pensar nos dois escritores. Seriam os bêbados e perdidos os únicos paralelos entre tal obras?

Pensando superficialmente, logo me dou conta de outros aspectos. Além das falas do "submundo" das cidades, ambos os autores desmontam a idéia de "paraíso na terra" que existe acerca de suas terras natais (Dalton em Curitiba e Bukowski em Los Angeles e todos os Estados Unidos em um geral).

Tanto a prostituta do velho Buk, de 150 quilos de um metro e meio, que peida, uiva e destroça a cama quando goza, como o Maníaco do Olho Verde que abusa de menores de idade no trilho do trem, e que no fim ainda ergue o dedo acusador contra a sociedade hipócrita e acusa: "Podem me condenar babacas e bundões. O que eu faço? Tudo o que vocês gostariam. Eu sou um de vocês.", do velho Trevisan, são personagens que desmascaram a triste realidade do American Dream ou do já citado palácio de cristal Lerneriano, na capital verde do transporte público exemplar.

A presença de anti-heróis autobiográficos também é um fato marcante. Henry Chinaski seria um irmão gêmeo desfigurado de outro pai do eterno malandro Nelsinho. A leitura nos levaria a dizer que não, haja visto os modos de vida dos dois autores sempre na esbórnia e em bebedeiras, entretanto, um participando ativamente destas, enquanto o outro sempre famoso por estar nas sombras (daí o vampiro?), apenas observando, coletando material. Entretanto, nos seus escritos realizados em uma idade mais avançada, nosso Bukowski deixa transparecer, mostrando até um certo desabafo, que era um covarde, e que não se envolveu em tantas brigas quanto deu a entender.

O obsceno também é fator constante, apesar da diferença gritante de estilo dos dois nesse quesito, vejamos Dalton:

"Nessa hora, se bem entendi, o doutor exibe o que chama de Memorial de Curitiba, com trófeus e escudos pendurados. E manda pegar - ui, que medo!
(...)
- Abre as pálpebras do olho único de Polifemo e recebe a estaca em fogo do belo forte impávido Ulisses"
(Conto Prova de Redação, do livro Macho Não Ganha Flor)

Já em Bukowski:

"Saímos cambaleando pela sala. Rasguei o vestido na gola, abri até a cintura, arranquei-lhe o sutiã. Seios vulcânicos, imensos. Beijei os dois, depois passei pra boca. Levantei o vestido, puxando a calcinha pra baixo. E meti. Comi ela de pé. Depois de gozar, joguei-a em cima do sofá. A buceta ficou olhando para mim."
(Conto Curra! Curra!, do livro Fabulário geral do delírio cotidiano: Ereções, Ejaculações e exibicionismos - Parte II)

É notável o que falo em diferença de estilo :) Obviamente as descrições do ato sexual dos dois não se resume a isso. Bukowski consegue ser mais "delicado", enquanto Dalton não se resume aos "carros do faraó" e solta um bom "caralho" nos seus contos de vez em quando.

Se eu lembrar de algo mais, eu escrevo!

(Alberto! Curitiba de novo?!?)

2 comentários:

Maikon K disse...

sobre seu comentário no vivo na cidade:
Cara, esses tempos li uma reportagem, acho que foi no Brasil de Fato, que na Venezuela o Exército é utilizado para a construção de infraestruturas e tal. O que deve ser verdade, porém faço as minhas ressalvas, a mídia da esquerda brasileira tem um tesão mto grande por figuras ou modelos políticos como do Chavéz e "socialismo" de governo.
Eu não gosto, até mesmo que as minhas fontes de informações - a mídia anarquista venezuelana - vive apontando as práticas de perseguições, ameaças e criminalizações, sendo o exército o responsável ou a polícia.

Outro detalhe é a estrutura do Exército que é de uma rigidez estúpida, um apelo a uma "ordem", "pátria", "autoridade" e vai gostar de poder assim na caixa do caralh*.

O gosto do poder é uma lembraça da fala do Wilson Oliveira Neto, que comentou da sempre presente participação do Exército Brasileiro na história política brasileira.

Hoje não é diferente, tá aí o Exército Brasileiro coladinho no governo petista para evitar abertura dos arquivos da ditadura militar, a revisão da lei de anistia para o carrascos fardados e até mesmo lançando comentários dignos de assustar figuras nem tão democráticas.

abraço
maikon k.

Maikon K disse...

Cara.

Eu fiz o comentário tendo como base dois livros do Dalton, que sairam pela LP&m, na separação de bens da minha primeira namorada acabaram ficando na minha casa. Mais uma razão para ela odiar o Mendigo que escreve.

As minhas leituras do velho Bukowski é de maior profundidade. Os contos, as poesias, os romances e as crônicas estão espalhas na minha estante e as leituras foram feitas desde 1999, quando o velho escroto passou ser "cultuado" no cenário punk-hardcore, especialmente, nos zines. Punk é foda, quando resolve ler e escrever zine, a referência é um babaca como Bukowski.Olha, to sendo bem odioso com a figura do autor, o que não desclassifica a validade dos seus escritos. O Matheus odeio quando faço isso, mas ele não deve entender as minhas críticas.

Escrevi até aqui para sustentar que não tenho base de leitura dos autores, somente o velho escroto da gringa li com mais profundidade.

Penso que vc tem razão ao afirmar que a relação em comum entre o submundo seja interessante parelelo, acrescento, que seja o suficiente. Ambos viveram a mesma época, apesar do Dalton insistir viver. O mundo oficial, da política "legalzona" para a vida das pessoas demonstra que um submundo é criado, não por má fé das pessoas, mas por conta das estruturas políticas, econômicas, culturais e sociais, agindo fortemente, levando mulheres ou caras para a condição de prostituição, a bebedeiras nas ruas, aos roubos e afins...O que não vale o argumento de que as tristezas de hoje sustentadas por desigualdades são "boas" para a literatura, como fez Ferreira Gullar, ao falar da Ditadura Militar.

Filipe, a cultura blogueira daqui, ou de pessoas que passaram por aqui, precisam de conversas e discussões. Vamos que vamos.

Abraço
Maikon k.