quarta-feira, 29 de abril de 2009
terça-feira, 28 de abril de 2009
Eu, Orwell, instituições, drogas e minha mãe.
Estava a pensar dias atrás de onde vem esse meu jeito meio "torto" de pensar. Meus pais não tem como qualidade principal o pensamento libertário, entretanto, não podem também ser chamados de conservadores, é uma palavra pesada... Me lembrei então de uma das minhas primeiras leituras "subversivas". Foi aos 11, 12 anos de idade. Minha mãe, na ânsia de despertar em mim o gosto da leitura, me entupia (no bom sentido) de livros infanto-juvenis, e entre eles, um dia ela me apresentou um chamado "A Revolução dos Bichos":
- Olha filho, é um livro onde os bichos de uma fazenda falam, andam em pé, e mandam o dono embora...
Se ela soubesse o que ia plantar na minha cabeça... Apesar de que hoje sei que ela tem muito orgulho de mim. Entretanto, voltando ao livro, li e gostei. Tanto gostei que li e reli incontáveis vezes, e conforme crescia e amadurecia, entendia o que realmente queria dizer o livro, que ia muito além dos bichos falantes. Certo tempo depois, notei nas estantes da minha casa, outro livro do George Orwell, o 1984. E a edição era de... 1984! Nada a ver com a história, mas enfim... Li 1984, e gostei ainda mais, pois já era um pouco mais velho, e este não era tão "inocente" como o outro, sem bichinhos falando, era mais direto no que o velho Orwell queria retratar.
Com isso, idéias foram amadurecendo na minha cabeça, outras fora entrando, ganhando espaço, e assim a coisa foi. Hoje, entendo o porque tenho certo asco contra instituições, e e aí que começa o que realmente queria escrever hoje.
Vendo hoje alguns trechos do Jornal do Almoço, estava uma discussão sobre a marcha da maconha, e a possível liberação desta. É estranho como o Estado assume a chancela das proibições e liberações cabíveis aos cidadãos. Assim como era contra o desarmamento, sou a favor da liberação da maconha. Não que eu queira comprar uma Magnum, e com um baseado na boca ficar bem louco e garantir a minha segurança pessoal na bala, mas não creio que seja papel do Estado se intromenter e restringir o acesso das pessoas ao que elas desejam. É tão ridículo quanto o tal do "toque de recolher" imposto em Fernandópolis (SP). Reduz a violência? Reduz. Mas e a liberdade das pessoas? É só lembrar que em ditaduras, a violência urbana cai a praticamente zero, assim como é na China e em Cuba.
A liberação da maconha entretanto, não poderia ser como na Holanda, onde é parcialmente liberada. Não existe liberdade parcial. Ou as pessoas são livres para fazer ou não são. Isso é tão absurdo quanto o cara que declarou no Jornal do Almoço que é contra a maconha por ela ser uma "erva alucinógena". Fiquei imaginando a cena:
- E aí cara, tem unzinho?
- Tenho.
- Dá uma bola?
- Pega aí!
(fssssss...)
- Pô, do bom... AAAAAAAAAAAHHHHHHH!!! UM DRAGÃO! CORRAM PELAS SUAS VIIIIIDAAAAS!!!
- ...
- Será que o dragão tem mais unzinho pra gente queimar?
- Olha filho, é um livro onde os bichos de uma fazenda falam, andam em pé, e mandam o dono embora...
Se ela soubesse o que ia plantar na minha cabeça... Apesar de que hoje sei que ela tem muito orgulho de mim. Entretanto, voltando ao livro, li e gostei. Tanto gostei que li e reli incontáveis vezes, e conforme crescia e amadurecia, entendia o que realmente queria dizer o livro, que ia muito além dos bichos falantes. Certo tempo depois, notei nas estantes da minha casa, outro livro do George Orwell, o 1984. E a edição era de... 1984! Nada a ver com a história, mas enfim... Li 1984, e gostei ainda mais, pois já era um pouco mais velho, e este não era tão "inocente" como o outro, sem bichinhos falando, era mais direto no que o velho Orwell queria retratar.
Com isso, idéias foram amadurecendo na minha cabeça, outras fora entrando, ganhando espaço, e assim a coisa foi. Hoje, entendo o porque tenho certo asco contra instituições, e e aí que começa o que realmente queria escrever hoje.
Vendo hoje alguns trechos do Jornal do Almoço, estava uma discussão sobre a marcha da maconha, e a possível liberação desta. É estranho como o Estado assume a chancela das proibições e liberações cabíveis aos cidadãos. Assim como era contra o desarmamento, sou a favor da liberação da maconha. Não que eu queira comprar uma Magnum, e com um baseado na boca ficar bem louco e garantir a minha segurança pessoal na bala, mas não creio que seja papel do Estado se intromenter e restringir o acesso das pessoas ao que elas desejam. É tão ridículo quanto o tal do "toque de recolher" imposto em Fernandópolis (SP). Reduz a violência? Reduz. Mas e a liberdade das pessoas? É só lembrar que em ditaduras, a violência urbana cai a praticamente zero, assim como é na China e em Cuba.
A liberação da maconha entretanto, não poderia ser como na Holanda, onde é parcialmente liberada. Não existe liberdade parcial. Ou as pessoas são livres para fazer ou não são. Isso é tão absurdo quanto o cara que declarou no Jornal do Almoço que é contra a maconha por ela ser uma "erva alucinógena". Fiquei imaginando a cena:
- E aí cara, tem unzinho?
- Tenho.
- Dá uma bola?
- Pega aí!
(fssssss...)
- Pô, do bom... AAAAAAAAAAAHHHHHHH!!! UM DRAGÃO! CORRAM PELAS SUAS VIIIIIDAAAAS!!!
- ...
- Será que o dragão tem mais unzinho pra gente queimar?
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quinta-feira, 23 de abril de 2009
Viagens, mais viagens.
Este final de semana de feriado, foi mais um de viagens. Fui até Curitiba, passei uns dias por ali, e depois fui até Capanema (que fica a aproximadamente 600 km da capital paranaense, no outro extremo do estado). Foi um final de semana de boas companhias (primos que são como irmãos), boas risadas, boas comidas. Ao mesmo tempo, foi um feriadão também solitário, pois a Cibele ficou em Jaraguá, a fins de trabalho.
Foi também um final de semana de descobertas, descobrir algumas raízes, ótimas raízes. Descobrir histórias de família antigas e também recentes.
Foram dias de pensar em "não deixar pro meu filho, a pampa pobre que herdei de meu pai".
Fui obrigado a postar, estavam reclamando anonimamente, hehehe...
Foi também um final de semana de descobertas, descobrir algumas raízes, ótimas raízes. Descobrir histórias de família antigas e também recentes.
Foram dias de pensar em "não deixar pro meu filho, a pampa pobre que herdei de meu pai".
Fui obrigado a postar, estavam reclamando anonimamente, hehehe...
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Viagens
Eu adoro a BR 101. Engraçado que eu sempre senti isso, mas apenas hoje consegui externalizar isso não somente para os outros, mas para mim também. Andar na 101 pra mim geralmente é um motivo de alegria, e a sensação de estar com o "pé na estrada" é sempre revigorante para mim.
Tal sentimento está diretamente ligado à cidade de Joinville, quando há algum tempo atrás eu descia a serra quase todo final de semana, depois me estabeleci de vez na cidade, e daí subia a serra para rever minha família e meus amigos. Serra essa sempre imponente quando se está pelos lados do Rio Bonito, serra essa que surge como uma muralha a separar duas partes extremamente distintas da minha vida. Certo tempo depois, me estabeleci temporariamente em Jaraguá, mas eu não gosto da BR 280.
A 280 é uma estrada triste. No caminho para Jaraguá, a partir da 101, já começa com suas zonas tristes, cheias de putas tristes. Além disso, os motivos que me levavam a Jaraguá dificilmente eram motivos alegres. Hoje a coisa muda um pouco, pois lá está o meu lar e a minha vida novamente, e em Jaraguá começou outra fase importante da minha vida, mas ainda assim prefiro a 101.
Como diria Kerouac, a estrada é mágica, seja lá pra onde for que ela te leve. Quero poder ainda viajar muito, e, de preferência, que bons motivos me levem.
Tal sentimento está diretamente ligado à cidade de Joinville, quando há algum tempo atrás eu descia a serra quase todo final de semana, depois me estabeleci de vez na cidade, e daí subia a serra para rever minha família e meus amigos. Serra essa sempre imponente quando se está pelos lados do Rio Bonito, serra essa que surge como uma muralha a separar duas partes extremamente distintas da minha vida. Certo tempo depois, me estabeleci temporariamente em Jaraguá, mas eu não gosto da BR 280.
A 280 é uma estrada triste. No caminho para Jaraguá, a partir da 101, já começa com suas zonas tristes, cheias de putas tristes. Além disso, os motivos que me levavam a Jaraguá dificilmente eram motivos alegres. Hoje a coisa muda um pouco, pois lá está o meu lar e a minha vida novamente, e em Jaraguá começou outra fase importante da minha vida, mas ainda assim prefiro a 101.
Como diria Kerouac, a estrada é mágica, seja lá pra onde for que ela te leve. Quero poder ainda viajar muito, e, de preferência, que bons motivos me levem.
terça-feira, 14 de abril de 2009
"A beleza salvará o mundo"
A frase acima é do digníssimo Fiódor Dostoiévski, homem que merece nada mais nada menos do que o elogio de "gênio", na acepção total da palavra. Pensando sobre tal citação, não seria ela verdadeira?
O que seria belo? Buscando o contrário, o que seria feio? É muito relativo o conceito de belo, mas vendo alguns dos romances do "inventor do alcoolismo", como diria um amigo meu, temos algumas pistas.
No "Crime e Castigo", por exemplo, temos o assassinato e o consequente thriller psicológico que o autor nos presenteia. O protagonista Rodion Românovitch Raskólnikov vive em becos, seu quarto é um canto obscuro que favorece a depressão do protagonista, os demais personagens são pessoas desgraçadas, marcadas pela vida difícil e opressiva, e Ródion comete o pior dos crimes, um assassinato.
Onde estaria a beleza aí? Na redenção de Raskólnikov no final do livro? Talvez. A beleza se revela ao longo da obra, quando mostra um Rodion humano, tendo medo, pesando a consciência e, apesar da sua teoria de "pessoas superiores", no fundo ele sabe que errou, e mesmo com toda a resistência a admitir isso, seu final é de redenção e aceitação da vida. A beleza não se revela só no fim, mas ao longo do processo de vivência de um ser humano.
O que seria belo? Buscando o contrário, o que seria feio? É muito relativo o conceito de belo, mas vendo alguns dos romances do "inventor do alcoolismo", como diria um amigo meu, temos algumas pistas.
No "Crime e Castigo", por exemplo, temos o assassinato e o consequente thriller psicológico que o autor nos presenteia. O protagonista Rodion Românovitch Raskólnikov vive em becos, seu quarto é um canto obscuro que favorece a depressão do protagonista, os demais personagens são pessoas desgraçadas, marcadas pela vida difícil e opressiva, e Ródion comete o pior dos crimes, um assassinato.
Onde estaria a beleza aí? Na redenção de Raskólnikov no final do livro? Talvez. A beleza se revela ao longo da obra, quando mostra um Rodion humano, tendo medo, pesando a consciência e, apesar da sua teoria de "pessoas superiores", no fundo ele sabe que errou, e mesmo com toda a resistência a admitir isso, seu final é de redenção e aceitação da vida. A beleza não se revela só no fim, mas ao longo do processo de vivência de um ser humano.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Insônia
Estava eu pensando, em uma noite de insônia, sobre o nosso papel hoje no mundo. Estamos cercados de problemas, injustiças, erros, e o que fazemos? Não anseio nem penso em coisas grandiosas tais quais salvar a população mundial, mas sobre como podemos agir em prol das pessoas que nos cercam. Isso me lembra a história de um espadachim do final da era Edo no Japão, que quando foi instaurada a monarquia, ao invés de ocupar um cargo importante no governo, como fizeram os grandes samurais monarquistas da época, preferiu viver como um andarilho, e proteger efetivamente as pessoas que estavam ao seu redor, sem a ilusão de "salvamento em massa" que os cargos públicos muitas vezes podem gerar.
Fugi um pouco de onde gostaria de chegar. Desde pequeno, fui educado como cristão, frequentei a igreja com minha mãe, e até certo tempo da minha vida, isso me bastou. Entretanto, porém e contudo, chegou um tempo em que as paredes de um templo não me bastaram, e procurei a Cristo com outros olhos. Estava cansado do "cristianismo miguxo", onde todos são bons, onde os irmãos da igreja se amam e tudo corre na mais santa paz. Somos humanos, erramos, mentimos, traímos, caímos. É a nossa imperfeição que nos leva a sermos nós.
Eu precisava entender o porque de obedecer a Deus. Muitas pessoas entenderiam isso como um gesto de rebeldia, mas não Deus. Obediência só é válida, quando se entende a origem dela. Se a obediencia for "engolida", vira autoritarismo, e não consigo enxergar Deus dessa maneira. Para um exemplo disso, é só observarmos ao longo dos quatro evangelhos Jesus ensinando, sendo questionado e respondendo, sem negar uma resposta uma única vez, e calando os escribas diante de sua sabedoria (Lc 20:39-40).
E temos também os supracitados cristãos "miguxos", onde se incluem muitas vezes os diretores, conselheiros, ou seja lá qual for a denominação que cada igreja usa, com sua aura de bondade e amor, mas que conseguem entrar no conceito nietzschiniano de "superioridade cristã" (na qual o "perdão" e o "amor" de alguns "cristãos" não é nada mais do que uma forma de vingança por uma vida submissa, e que assumem tal aura como uma forma de vingança às avessas, colocando-se assim como superiores aos demais, pois são capazes da nobreza do perdão acima de tudo). Não consigo crer em pessoas que não mostram suas falhas, seu lado humano. Para mim, todas elas parecem com Pedro, quando este diz que daria a vida por Jesus momentos antes da Paixão (Jo 13:37-38), e logo em seguida sua "vontade" toda cai por terra, quando Cristo diz que este o negaria ainda três vezes naquela mesma noite. O mais incrível, é que o Filho de Deus não recrimina o apóstolo, pois sabe que este é apenas humano, e que dentro desta limitação, é fraco.
Deus é um só, mas se revela das mais variadas formas, da maneira que cada um precisa, pois só Ele conhece nosso íntimo.
Feliz Páscoa!
Fugi um pouco de onde gostaria de chegar. Desde pequeno, fui educado como cristão, frequentei a igreja com minha mãe, e até certo tempo da minha vida, isso me bastou. Entretanto, porém e contudo, chegou um tempo em que as paredes de um templo não me bastaram, e procurei a Cristo com outros olhos. Estava cansado do "cristianismo miguxo", onde todos são bons, onde os irmãos da igreja se amam e tudo corre na mais santa paz. Somos humanos, erramos, mentimos, traímos, caímos. É a nossa imperfeição que nos leva a sermos nós.
Eu precisava entender o porque de obedecer a Deus. Muitas pessoas entenderiam isso como um gesto de rebeldia, mas não Deus. Obediência só é válida, quando se entende a origem dela. Se a obediencia for "engolida", vira autoritarismo, e não consigo enxergar Deus dessa maneira. Para um exemplo disso, é só observarmos ao longo dos quatro evangelhos Jesus ensinando, sendo questionado e respondendo, sem negar uma resposta uma única vez, e calando os escribas diante de sua sabedoria (Lc 20:39-40).
E temos também os supracitados cristãos "miguxos", onde se incluem muitas vezes os diretores, conselheiros, ou seja lá qual for a denominação que cada igreja usa, com sua aura de bondade e amor, mas que conseguem entrar no conceito nietzschiniano de "superioridade cristã" (na qual o "perdão" e o "amor" de alguns "cristãos" não é nada mais do que uma forma de vingança por uma vida submissa, e que assumem tal aura como uma forma de vingança às avessas, colocando-se assim como superiores aos demais, pois são capazes da nobreza do perdão acima de tudo). Não consigo crer em pessoas que não mostram suas falhas, seu lado humano. Para mim, todas elas parecem com Pedro, quando este diz que daria a vida por Jesus momentos antes da Paixão (Jo 13:37-38), e logo em seguida sua "vontade" toda cai por terra, quando Cristo diz que este o negaria ainda três vezes naquela mesma noite. O mais incrível, é que o Filho de Deus não recrimina o apóstolo, pois sabe que este é apenas humano, e que dentro desta limitação, é fraco.
Deus é um só, mas se revela das mais variadas formas, da maneira que cada um precisa, pois só Ele conhece nosso íntimo.
Feliz Páscoa!
sábado, 4 de abril de 2009
Dalton Chinaski
Lendo os comentários deste blog que vos faz ler, deparo com o do meu querido amigo Maikon, no post sobre o Dalton Trevisan. Lá, meu dileto amigo escreve o seguinte: "a princípio falas dos bêbados e perdidos da sua cidade seja o maior paralelo se traçar ao Kuwoski. Nada além disso, ao menos é a minha primeira interpretação".
Longe de entender isso como uma crítica, ou de usar esse espaço para criticar, tal comentário me levou a pensar nos dois escritores. Seriam os bêbados e perdidos os únicos paralelos entre tal obras?
Pensando superficialmente, logo me dou conta de outros aspectos. Além das falas do "submundo" das cidades, ambos os autores desmontam a idéia de "paraíso na terra" que existe acerca de suas terras natais (Dalton em Curitiba e Bukowski em Los Angeles e todos os Estados Unidos em um geral).
Tanto a prostituta do velho Buk, de 150 quilos de um metro e meio, que peida, uiva e destroça a cama quando goza, como o Maníaco do Olho Verde que abusa de menores de idade no trilho do trem, e que no fim ainda ergue o dedo acusador contra a sociedade hipócrita e acusa: "Podem me condenar babacas e bundões. O que eu faço? Tudo o que vocês gostariam. Eu sou um de vocês.", do velho Trevisan, são personagens que desmascaram a triste realidade do American Dream ou do já citado palácio de cristal Lerneriano, na capital verde do transporte público exemplar.
A presença de anti-heróis autobiográficos também é um fato marcante. Henry Chinaski seria um irmão gêmeo desfigurado de outro pai do eterno malandro Nelsinho. A leitura nos levaria a dizer que não, haja visto os modos de vida dos dois autores sempre na esbórnia e em bebedeiras, entretanto, um participando ativamente destas, enquanto o outro sempre famoso por estar nas sombras (daí o vampiro?), apenas observando, coletando material. Entretanto, nos seus escritos realizados em uma idade mais avançada, nosso Bukowski deixa transparecer, mostrando até um certo desabafo, que era um covarde, e que não se envolveu em tantas brigas quanto deu a entender.
O obsceno também é fator constante, apesar da diferença gritante de estilo dos dois nesse quesito, vejamos Dalton:
"Nessa hora, se bem entendi, o doutor exibe o que chama de Memorial de Curitiba, com trófeus e escudos pendurados. E manda pegar - ui, que medo!
(...)
- Abre as pálpebras do olho único de Polifemo e recebe a estaca em fogo do belo forte impávido Ulisses"
(Conto Prova de Redação, do livro Macho Não Ganha Flor)
Já em Bukowski:
"Saímos cambaleando pela sala. Rasguei o vestido na gola, abri até a cintura, arranquei-lhe o sutiã. Seios vulcânicos, imensos. Beijei os dois, depois passei pra boca. Levantei o vestido, puxando a calcinha pra baixo. E meti. Comi ela de pé. Depois de gozar, joguei-a em cima do sofá. A buceta ficou olhando para mim."
(Conto Curra! Curra!, do livro Fabulário geral do delírio cotidiano: Ereções, Ejaculações e exibicionismos - Parte II)
É notável o que falo em diferença de estilo :) Obviamente as descrições do ato sexual dos dois não se resume a isso. Bukowski consegue ser mais "delicado", enquanto Dalton não se resume aos "carros do faraó" e solta um bom "caralho" nos seus contos de vez em quando.
Se eu lembrar de algo mais, eu escrevo!
(Alberto! Curitiba de novo?!?)
Longe de entender isso como uma crítica, ou de usar esse espaço para criticar, tal comentário me levou a pensar nos dois escritores. Seriam os bêbados e perdidos os únicos paralelos entre tal obras?
Pensando superficialmente, logo me dou conta de outros aspectos. Além das falas do "submundo" das cidades, ambos os autores desmontam a idéia de "paraíso na terra" que existe acerca de suas terras natais (Dalton em Curitiba e Bukowski em Los Angeles e todos os Estados Unidos em um geral).
Tanto a prostituta do velho Buk, de 150 quilos de um metro e meio, que peida, uiva e destroça a cama quando goza, como o Maníaco do Olho Verde que abusa de menores de idade no trilho do trem, e que no fim ainda ergue o dedo acusador contra a sociedade hipócrita e acusa: "Podem me condenar babacas e bundões. O que eu faço? Tudo o que vocês gostariam. Eu sou um de vocês.", do velho Trevisan, são personagens que desmascaram a triste realidade do American Dream ou do já citado palácio de cristal Lerneriano, na capital verde do transporte público exemplar.
A presença de anti-heróis autobiográficos também é um fato marcante. Henry Chinaski seria um irmão gêmeo desfigurado de outro pai do eterno malandro Nelsinho. A leitura nos levaria a dizer que não, haja visto os modos de vida dos dois autores sempre na esbórnia e em bebedeiras, entretanto, um participando ativamente destas, enquanto o outro sempre famoso por estar nas sombras (daí o vampiro?), apenas observando, coletando material. Entretanto, nos seus escritos realizados em uma idade mais avançada, nosso Bukowski deixa transparecer, mostrando até um certo desabafo, que era um covarde, e que não se envolveu em tantas brigas quanto deu a entender.
O obsceno também é fator constante, apesar da diferença gritante de estilo dos dois nesse quesito, vejamos Dalton:
"Nessa hora, se bem entendi, o doutor exibe o que chama de Memorial de Curitiba, com trófeus e escudos pendurados. E manda pegar - ui, que medo!
(...)
- Abre as pálpebras do olho único de Polifemo e recebe a estaca em fogo do belo forte impávido Ulisses"
(Conto Prova de Redação, do livro Macho Não Ganha Flor)
Já em Bukowski:
"Saímos cambaleando pela sala. Rasguei o vestido na gola, abri até a cintura, arranquei-lhe o sutiã. Seios vulcânicos, imensos. Beijei os dois, depois passei pra boca. Levantei o vestido, puxando a calcinha pra baixo. E meti. Comi ela de pé. Depois de gozar, joguei-a em cima do sofá. A buceta ficou olhando para mim."
(Conto Curra! Curra!, do livro Fabulário geral do delírio cotidiano: Ereções, Ejaculações e exibicionismos - Parte II)
É notável o que falo em diferença de estilo :) Obviamente as descrições do ato sexual dos dois não se resume a isso. Bukowski consegue ser mais "delicado", enquanto Dalton não se resume aos "carros do faraó" e solta um bom "caralho" nos seus contos de vez em quando.
Se eu lembrar de algo mais, eu escrevo!
(Alberto! Curitiba de novo?!?)
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Outono.
O outono já começou há um certo tempo, mas hoje é que ele deu as caras. Fui dar a minha caminhada, e bateu, bem de leve, uma certa melancolia boa... O céu cinzento, aquele "cheiro" de ar frio batendo nas narinas...
Não sei se é porque me lembra Curitiba, ou se porque é uma mudança, ou porque o verão (que é uma estação que me faz mal, ainda mais nessas paragens) está findando. Nessas horas sempre lembro de Drummond:
"Reparara que o outono é mais estação da alma do que da natureza".
Não sei se é porque me lembra Curitiba, ou se porque é uma mudança, ou porque o verão (que é uma estação que me faz mal, ainda mais nessas paragens) está findando. Nessas horas sempre lembro de Drummond:
"Reparara que o outono é mais estação da alma do que da natureza".
Em busca de Curitiba Perdida.
Estava eu lendo e relendo meus livros de continhos galantes do Dalton Trevisan quando algumas coisas me vieram à cabeça e me deu vontade de colocar aqui.
O tão recluso vampiro de Curitiba, que tem fotos tiradas na surdina, avesso à entrevistas, mostra-se dono de uma sensibilidade ímpar aos miseráveis (talvez encontre algum paralelo em Bukowski), mas também é dono de uma ironia ácida, e de um cinismo pungente.
"Ao internar o marido alcoólatra no asilo, quando perguntam a profissão, ela diz:
- Funileiro.
E o bêbado, em triunfo:
- Isso aí. Agora eu tenho profissão, não é?"
São pequenos contos que, surrupiados ardilosamente de filigranas e demasiadas contextualizações, deixam florescer toda uma vida de dores, amores e frustrações.
"Assustada, a velha pula da cadeira, se debruça na cama:
- João, fale comigo João.
Geme lá no fundo, abre o olhinho vazio:
- Bruuuxa... diaaaba...
- Ai, que alívio. Graças a Deus."
Seus Joões e Marias vagueiam sempre perdidos por uma Curitiba longínqua dos palácios de cristais do primeiro mundo criados pela dinastia Lerner, ou mesmo dos arroubos dignos de Nero de Requião. Perambulam pela Curitiba perdida e, à noite, descem o Largo da Ordem e encontram-se com os travestis da Praça Tiradentes, e, quando lhes é permitido um momento de sossego, lembram-se de uma infância de mãos no bolso.
"Em toda casa de Curitiba, João e Maria se crucificam aos beijos na mesma cruz".
O tão recluso vampiro de Curitiba, que tem fotos tiradas na surdina, avesso à entrevistas, mostra-se dono de uma sensibilidade ímpar aos miseráveis (talvez encontre algum paralelo em Bukowski), mas também é dono de uma ironia ácida, e de um cinismo pungente.
"Ao internar o marido alcoólatra no asilo, quando perguntam a profissão, ela diz:
- Funileiro.
E o bêbado, em triunfo:
- Isso aí. Agora eu tenho profissão, não é?"
São pequenos contos que, surrupiados ardilosamente de filigranas e demasiadas contextualizações, deixam florescer toda uma vida de dores, amores e frustrações.
"Assustada, a velha pula da cadeira, se debruça na cama:
- João, fale comigo João.
Geme lá no fundo, abre o olhinho vazio:
- Bruuuxa... diaaaba...
- Ai, que alívio. Graças a Deus."
Seus Joões e Marias vagueiam sempre perdidos por uma Curitiba longínqua dos palácios de cristais do primeiro mundo criados pela dinastia Lerner, ou mesmo dos arroubos dignos de Nero de Requião. Perambulam pela Curitiba perdida e, à noite, descem o Largo da Ordem e encontram-se com os travestis da Praça Tiradentes, e, quando lhes é permitido um momento de sossego, lembram-se de uma infância de mãos no bolso.
"Em toda casa de Curitiba, João e Maria se crucificam aos beijos na mesma cruz".
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Quase cem anos de genialidade.
Saiu hoje a notícia da aposentadoria de Gabriel Garcia Márquez, aos 82 anos, um dos principais representantes do chamado "realismo fantástico", e pioneiro nesse estilo na américa latina.
Tal gama de pensamentos transparecem, e muito, em seus romances e contos, mas quando questionado sobre o seu principal tema, sem titubear, ele respondia: "a solidão".
Seus personagens poderiam ser melancólicos, alegres, inteligentes, tapados, irônicos, destinados, predestinados, mas acima de tudo, eram solitários, como todo bom ser humano perdido nos labirintos de suas próprias vidas.
"... porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tem uma segunda oportunidade sobre a terra."
Bomba no Lênin dos outros é refresco.
O velho camarada dificilmente poderá cantar "de pé, famélico da terra" de agora em diante...
Fonte e demais explicações aqui.
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